sábado, 24 de dezembro de 2016

Dezembro polvilhado com açúcar e canela

Elena Vizerskaia

Caramba!
Estou mesmo precisada
de um corpo novo
para embrulhar a alma...
Pode ser que o "Pai Natal" seja generoso e se lembre de se esquecer de um, bem recauchutado no criado-mudo do meu quarto!
Graças à parte, ainda que arredia e ausente não me esqueço da Gente que mora dentro deste universo da Blogosfera! E por isso, aqui vos deixo uma linhas aromatizadas a Dezembro, polvilhadas com açúcar e canela. 
Assim sendo, para todos sem excepção, e, em especial para aqueles que vivem aqui dentro, e que eu adoraria trazer para o lado de cá de fora desta porta, que nem coelhos tirados da cartola, deixo os meus votos de todo o bem-querer por tempo indeterminado, e já agora, façam por serem felizes, e por fazerem alguém feliz...
Então vá, tudo de bom e assim, para vós e para os vossos.
Beijinhos e Abraços.

Sandra

domingo, 4 de dezembro de 2016

das Cores Proibidas

Imagem tirada daqui

Eles são amigos,
amantes,
confidentes clandestinos,
e mais são
testemunhas e arguidos,
do crime
não cometido.
Eles são números primos
entre si,
filhos do desassossego,
almas inquietas,
qual pele agrilhoada 
à cruzeta
do tempo da espera.
Eles sem se serem, 
são
fruto da matéria,
são 
parte do todo,
a metade que faz do outro
a “peça” inteira.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Rainha da Noite

Imagem retirada daqui
Aquela mulher madura,
hoje coroada de rainha
encorpou a luz do dia
sobre a noite da cidade Invicta.
De ego intumescido,
cochas rolas
e sorriso rasgado,
deita ao mundo
a sua nudez prenhe
do sol nascente,
como fruto testemunho
daquele amor
proibido,
há muito prometido.

domingo, 13 de novembro de 2016

Eclipse

The Kiss - Central Cemetery - Vienna, Austria Zentralfriedhof


No dia
em que os seus olhos 
se tocarem,
a lua será a luva perfeita
 do sol.
No instante a seguir,
quando o véu se despir,
aqueles corpos banais
não mais terão 
razão
de existir.

domingo, 9 de outubro de 2016

Era uma vez...

Imagem tirada daqui

Existem histórias de amor
que são escritas no sorriso das estrelas,
as tão famosas estórias,
contadas no silêncio da noite
ao travesseiro das crianças.

Era uma vez
um Menino Pastor
que armado em gavião,
beliscou Menina Flor.
Ela, irada, em menos que nada,
assentou-lhe um bofetão,
o rapaz andou de lado,
tonto, caiu desamparado
e foi de cabeça ao chão.
Ela ria-se, gargalhava
e divertia-se
com toda aquela situação.
O rapaz irritado, levantou-se, 
arregaçou as mangas
e sem medir o tamanho daquele fado, 
lançou mãos ao trabalho.
E lá foi ela carregada 
ao ombro do “Burro de Carga” 
caminho fora que nem um fardo de palha.
Pontapeava, esbracejava e gritava.
Ele só dizia:
- Não te adianta de nada, minha cara, 
não tenho medo do mau feitio da tua saia.
Pelo caminho ela viu 
coelhos de patas para o ar
a pastarem na margem do rio, 
viu veados roedores, flores e borboletas 
de vários tamanhos, feitios e cores.
(Já alguém viu coelhos pastores e veados roedores? Não? Mas ela já!)
Mesmo virada do avesso,
estava encantada com a magia
que brotava daquela terra desconhecida,
pela qual se apaixonara,
e desejava que fosse sua.
- Que linda é a tua aldeia, diz-lhe ela.
- Fica então, aqui comigo, vá.
- Hoje não posso, tenho a casa cheia...
- E amanhã?
- Amanhã não sei, mas hoje tenho de ir...

O hoje já foi ontem
e o amanhã ainda não chegou,
mas o vento, de vez em quando é generoso
e devolve-lhes o cheiro
da terra molhada num ramo de oliveira, 
que de lá vem entrelaçado naquele beijo esperado 
à ombreira da namoradeira.

E como diziam as minhas filhas quando eram pequeninas;
“Vitória, Vitória, acabou-se a história”;
de um Amor sem fim, de um Amor sem fundo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Impontual(idades) do Amor

Imagem tirada daqui

“o amor é uma invenção esgotante”, passo a citar uma citação extraída do “Fim de Setembro” do Impontual.
Se me permite(s), sem qualquer intenção ou presunção, complemento e acrescento, que tal invenção é um fenómeno resiliente que nunca se esgota.
As pessoas vão tropeçando por aí, umas nas outras, mas há aquelas que nos embatem de forma especial. Sem que dê-mos conta, entram sem permissão e instalam-se de mansinho dentro do nosso ninho afectivo, e o mais engraçado é que não há nada nem ninguém que quebre essa corrente transparente; nem o silêncio prolongado no tempo, nem a extrema e franca distância, tão pouco a crispação de personalidade entre feitios aguçados. O amor afigura-se como um menino traquina, mais teimoso que a própria teimosia.
Apesar de todos os pesares, a espera, a esperança e a espectativa continuam a ser os fios condutores que alimentam esse fenómeno crónico. E, apesar de o Amor ser “uma invenção esgotante” que nunca se esgota, é dele que brota a força para se continuar a caminhada, com a vantagem de que o numero primo nunca vai sozinho, segue sempre de coração embalado e aquecido numa nuvem de algodão doce com sabor a baunilha.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Adriano Chamiço

Adriano Chamiço 1998/2016



Os limites periféricos do meu mundo foram hoje, mais uma vez substancialmente encolhidos! Pequenino do tamanho de uma ervilha, o meu universo observa os lugares cativos todos preenchidos, até mesmo os que vão ficando vazios pelo caminho…

Dedicado ao Adriano Chamiço, uma verdadeira alma da natureza que nos adoptou como família durante 18 anos, Maravilhosos.

Obrigado!

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Ela Arabella

Título: Woman with mirror in window
Fotógrafo: Pawel Wewiorski
Colecção: Moment
Ela Arabella passa horas de pé à janela,
à espera da chegada da Primavera
como ela em tempo lhe era.
O tempo contou tanto tempo
que a janela embaciou a rua,
o céu perdeu a lua,
e o mapa da memória
perdeu a rota da história.
Toda Ela se esgota,
toda Ela se consome no fio
da cortina de vidro,
que lhe castra a realidade da estória.
Mas ainda assim, Arabella,
não arreda pé firme da janela,
em espera que o polícia sinaleiro,
dê luz verde ao sinal vermelho.

Segredo(s)

Imagem tirada daqui


























Há vielas secretas,
ou segredos tão só nossos,
que não devemos desvendá-los
sequer a nós próprios,
sob pena de cairmos
no limbo do labirinto afectivo.
E depois da queda,
nem a morte nos encontra,
nem a morte nos leva.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O mundo dos “Se’s” e dos “Quase´s”

Imagem tirada daqui
O “Se” e o “Quase” são duas palavras distintas, que enquanto matéria substantiva tentam atingir a unidade de medida do tempo e do espaço, respectivamente, a meu ver, sem grande sucesso. Elas flutuam no vácuo do abismo entre a dimensão sensorial e o universo de todas a impossibilidades só ali possíveis. Ora é lá, no mundo dos Se´s e dos Quase’s que brota a nascente da poesia mais bonita e genuína. É lá, no mundo dos Se´s e dos Quase’s que o sonho presenteia o ventre do corpo com asas de borboleta e o ser levanta voo em direcção ao céu, qual limite infinito residente dentro da mente (in)consciente.
Resumindo e baralhando, gosto muito de poesia e do mundo fantástico ou fantasioso onde ela se movimenta que nem um polvo no seu habitat natural, agora, Já não gosto de sentir os tentáculos pegajosos dos Se’s e dos Quase’s na corrente sanguínea do meu dia-a-dia. Gosto de poesia, gosto de encher as medidas da alma, gosto de sentir o tesão da paixão à flor da pele e levantar voo de seguida, mas antes disso, antes de ser consumida pelo vício da espectativa, preciso de saber defender bem a minha baliza, preciso de conhecer bem a medida do meu tempo e do meu espaço, e, acima de tudo preciso de ter mão precisa no trajecto do meu caminho. Portanto, viagens ao mundo dos Se’s e dos Quase’s, só com cinto, de alta segurança.

sábado, 16 de julho de 2016

Coração ao Largo

Marco Britto, em Photography by Fivehundredpx

Errar é humano, literalmente falando. E, tal acto ou acção é inata à condição humana, passo a redundância da expressão. Eu diria mesmo, que o erro é uma alavanca manca através da qual podemos tirar proveito de ensinamentos com vista a corrigir-mo-nos e a aperfeiçoar-mo-nos perante nós e perante os outros.

Ultimamente, tenho viajado muito dentro de mim, e de mim para mim, em busca do caminho certo para levar a bom porto a última etapa de uma jornada que tem sido longa, delicada e complicada.
O tempo no tempo é implacável quando o nosso tempo já vai para além da metade. É imperativo que dê da perna para me desembaraçar do que me pesa, do que me farda e do que me inquina a franca mobilidade, despenalizando o peso da consciência para outra instância. O  meu tempo é cada vez mais precioso, para me dar ao luxo de o desperdiçar. 
Está a olho visto, qual o meu próximo desafio afectivo; decidir racionalmente de facto e de direito a causa e o efeito, e agir a frio de coração ao largo, em espera calculada pelo repostar do outro lado, caso seja encetado.
O tempo e a experiência ensinaram-me a ver um pouco mais além, e a agir preventivamente, mas também me têm advertido que não sou imensa, que não consigo abarcar nem resolver todos os problemas em simultâneo, muito menos os de hoje e os de amanhã ao mesmo tempo, e, a vida não se compadece com o marasmo, nem com o deixa andar, nem com a falta de firmeza de decisão no momento exacto.   
Esta na hora de agir com precisão e de costas voltadas ao medo de cometer erros, e de prosseguir caminho por locais salubres e bem iluminados, de corpo leve, mente arejada e com o interruptor afectivo muito bem desligado; se bem que, preferiria mil vezes, calcorrear ruas antigas, estreitas e escuras, iluminadas por candeeiros obsoletos enluvados por teias de aranha. 

sábado, 2 de julho de 2016

Da Memória Intermitente

NOELL S. OSZVALD

O filamento incandescente da memória tem vindo a padecer de hiatos de intermitência entre as terras saudade e as terras do esquecimento. A ampulheta da cegueira partiu-se no meio do recheio do sótão desarrumado, deixando espalhados ao acaso os estilhaços do tempo da espera.
O fio do tempo desatou o nó da clausura, implodindo a cadeira vazia quase em estado de asfixia. Não lhe apetece escrever, não lhe apetece arrumar os cacos, não lhe apetece (re)lembrar, até porque isso implicaria repovoar a dor da saudade, mas também tem medo de esquecer e de cair no esquecimento, e a escuridão permanente está mesmo ali, na iminência de se instalar definitivamente.
À cautela, resta-lhe desligar o interruptor e acender uma vela no parapeito interior da janela, e, mais uma vez sabe que vai esperar que o destino fatídico se cumpra até à queda do último pingo de cera.

domingo, 5 de junho de 2016

Vanilla Dreams

Fotografia de M. Inês Louçano
I'm in heaven, 
lying on cotton candy clouds 
tasting vanilla dreams;
So, do me a favor, 
don’t wake me up!




The Game 

Come, let us play a game, little boy,
To while the world away.
What shall be – tell me – our harmless toy?
At what shall we play?

Shall we play – shall we? – at being great?
No, nor at being grand.
Shall we believe that we are Fate
And make up lives out sand?

No, little boy, we will play that we are
Happy, and that we are gay;
Let us pretend we are dreams, very far
From the world in which we play.

*Alexander Search
January 2nd. 1908


***
(TRAD.)

O Jogo

Anda, rapaz, deixa o mundo real,
Vamos jogar um jogo.
O que será – diz lá – brincadeira sem mal?
A que jogamos logo?

Vamos brincar - que tal – a quem é o mais forte?
Não, nem ao mais valente
Fingimos que somos a Sorte
E do pó fazemos gente?

Não, rapaz, afinal jogamos antes
A tão contentes que estamos;
Fingimos que somos sonhos, distantes
Deste mundo em que brincamos.

*Alexander Search
2 de Janeiro de 1908


*um dos 136 autores fictícios de Fernando Pessoa 
Poema extraído da edição de Jerónimo Pizarro e Patrício Ferrari - Tinta da China

Eu sou uma antologia
136 autores fictícios 
Fernando Pessoa

*Alexander Search, a mais prolífera figura literária do universo pessoano antes do mês «triunfal» de Março de 1914. Terá nascido em Lisboa a 13 de Junho de 1988, isto é na mesma cidade e na mesma cidade que Fernando Pessoa. Terá surgido na mente de Pessoa em 1906, ano em que começa a herdar os poemas antes atribuídos a Charles Robert Anon.(…)
«A Search» ou «Alex. Search», como assina alguns textos, foi uma figura poliglota, essencialmente activa entre 1906 e 1911. Porem o seu nome cionsta ainda de um plano literário de 1914, as suas iniciais surgem num cabeçalho de uma entrevista a *Alberto Caeiro – redigida em português e realizada e Espanha, onde esteve Search – , e é, uma vez mais, citando num plano editorial tardio, posterior a 1932.

terça-feira, 31 de maio de 2016

para lá da porta cor-de-rosa

Imagem fornecida por Castiel


























Ela vive dentro de um compartimento imenso para lá da porta cor-de-rosa, cuja chave só encasa na relíquia esculpida em latão pelo lado de fora da mão.
Ela vive dentro daquele denso compartimento com o segredo da chave em seu poder, mas sabe que o poder de a fazer rodar ainda não o pode exercer; É lá dentro que reside a responsabilidade da vida que gira em torno de si. Não é uma ilha isolada no meio do nada, ainda é um Porto de Abrigo, mesmo quando sente muitas vezes um desejo enorme de ser um grito.
Assim vive todos os dias dentro do compartimento, sempre de olhos postos nos ponteiros do tempo. E tem medo. Tem muito medo de quando exercer o poder de soltar a roda da chave, já não lhe restar tempo de qualidade para concretizar o que mais deseja e o que ainda lhe falta fazer, viver o seu Grande Amor por África.



***

“Parabéns mais uma vez mãe.
Sei que ultimamente tens andado muito stressada e cansada, e eu, e a Bia não temos ajudado...
Este é o teu dia, e quero quando chegar a casa, e o resto da noite, ver-te bem-disposta com esse sorriso lindo que tu tens no rosto. Apesar de tudo, agradeço-te por seres quem és (tanto como mulher, tanto como mãe), tenho muito orgulho na pessoa que és.
Palavras não descrevem o quanto eu te valorizo e te amo.
Palavras não conseguem agradecer tudo aquilo que fizeste, fazes e irás fazer por mim e naquilo que me ajudaste a ser!
Vamos fazer este dia valer a pena, mesmo que sejamos só as três.
Amo-te muito mãe!❤”

SMS enviada pela minha M. Inês

***
















Desenho feito pela minha M. Beatriz

Reparem só no pormenor das quatros trepadeira que vivem dentro do compartimento (I, J, B, S)

***


E o mimo manipulado digitalmente pela minha outra parte, J. Louçano


***

E é por estes motivos e por mais um outro, que me dá sempre um sorriso rasgado quando me vê, sem hoje ter tido a noção do dia que me era, que vale a pena viver dentro do compartimento que fica para lá da porta cor-de-rosa.