Estás perdido meu querido,
se te confundem os cheiros com o meu perfume.
O teu ego inchado e cego não te deixa ver meu ser sentir por ti, e uma essência nunca se confunde com sucedâneos. Tal discernimento só está ao alcance de quem vê de olhos fechados e carrega no peito um coração depurado. E esses entes raros, raios, ainda não foram inventados!
Já reparaste que quanto
mais me olhas menos me vês?
Não sendo grande apreciadora
desta época de festa, por diversos motivos e mais alguns que não são agora para
aqui chamados, não passo por ela sem deixar neste espaço virtual, onde fui criando laços de afinidade e de amizade, os votos que desejo o ano inteiro para
mim, para os meus, familiares e amigos.
Sendo assim, para o
topo do bolo, e como diz o povo, que nunca falte “saúdinha” da boa, que sem ela meus amigos, não se faz nem se come
sopa. Que nunca falte perseverança, humor, boa disposição e muita imaginação.
Mas acima de tudo que nunca falte dedos para pentear os cabelos do sol,
alma para dançar com a chuva, coração para voar à boleia de um ramo de oliveira
e que nunca falte também um par de mãos abertas cheias de outras mãos abertas, mãos cheias de pedaços de céu azul debruados a ouro, mãos cheias de mar, cheias de terra e mãos cheias de pão para partilhar com aqueles que não teem tecto nem chão...
Então vá, aqui vos
deixo os ingredientes de Bem-Querer para o ano inteiro, com direito a
prorrogação de prazo por tempo indeterminado.
Beijinhos para as
Meninas, e Abraços para os Meninos
Há quem diga que nos devemos arrepender do que fazemos, e não, do que não fazemos.
Ora aí está uma matéria complexa, sobre a qual não tenho opinião.
Há decisões que se tomam na vida que nos levam a fazer umas coisas e a não fazer outras, a tal dita liberdade de escolha. E a cada decisão, a cada opção, a cada acto ocorre sempre uma reacção, que por vezes acarreta um retorno pesado, incomportável de carregar. Por norma vivo o hoje com os olhos postos no amanhã tendo sempre presente o legado do passado, até porque o hoje já foi ontem e o tempo soma e segue sem parar.
Viver sim, aproveitar os bons momentos que a vida proporciona também, mas há que ter consciência que alguns deles, mesmo que de excelência, podem hipotecar o futuro, o nosso e o de terceiros também. Aí reside a grande responsabilidade da vida, viver a liberdade com dignidade. Até hoje nunca me arrependi do que vivi nem das opções que tomei e muito menos me arrependi do que não vivi, até porque, por muito que goste de alguém, gosto muito mais de mim.
E não, não acredito na sorte nem no destino, acredito que a vida resulta da conquista pessoal, da capacidade de visão, das decisões e das escolhas…
Quem disse que viver é fácil?!
E agora, para quebrar um pouco a carga emotiva que por aqui se respira, deixo do meu espelho escarificado uma nesga de poesia.
Ali estás tu, silhueta de gazela deitada no leito do meu desassossego, como quem espera por uma serenata na seda das noites de lua cheia.
Vejo tudo o que olhos podem alcançar mas as saudades de ti só me deixam imaginar-te...Sorriso fácil, olhar franco verde cintilante, cabelos de cheiro a jasmim, lábios de cereja, abraço de hortelã, três borboletas e uma flor trepadeira…
Três borboletas pequeninas e mimosas tatuadas a nanquim no ventre de mim! Quantas vezes esvoaçaram elas a pauta do desejo em busca do beijo de travo a amora silvestre…Quantas vezes sobrevoaram elas a terra quente perfumada a café torrado e a canela…Quantas vezes cederam elas ao grito ensandecido no travesseiro do derradeiro suspiro…Quantas vezes resgataram elas a minha alma da queda no precipício…Quantas vezes…Digo eu, que daqui a fito e que em cativo a mantenho no limbo insano do meu ser…
E ali estás tu, semi-mulher, semi-menina, queda à minha espera, no contraste que tão bem e ainda me caracteriza, ora doce, ora felina, ora contida, ora atrevida, mas tu, a mulher-menina que ainda hoje me desafia e desatina…
Sabes rapariga? Fazes-me falta como a chave que abre a porta do horizonte para além do nascer do sol. Fazes-me falta para que a vida seja mais doce e mais leve de carregar.
Durante dois trajetos consecutivos, casa-trabalho, trabalho-casa, manteve-se firme e hirta, apoiada entre o para-brisas e o vidro do carro.
Pequenina e resistente foi a folha filha do Choupo, que nem a adversidade do mau tempo lhe fez frente.
Fascinada pelo instinto de sobrevivência da mãe natureza, Asa Caída pegou naquele fio de vida com todo o cuidado, para não lhe partir nenhum bocado, e de mão aberta a um destino desconhecido, acolheu no leito do seu livro de poesia, "como uma flor de plástico na montra de um talho", com um sorriso, o pronuncio da morte, ou quiçá o presságio da boa sorte...
E assim deu um passo em frente no primeiro poema do livro;
"O remoto rei dos corvos,
Edgar Alan Poe,
deixa cair do bico,
no centro de uma biblioteca,
os restos de uma musa.
Cansados de tanta melancolia,
os ratos montam à volta um circo.
"Annabel Lee", "Annabel Lee",
guincham os bichos,
repartindo os osso entre si.
Mostram os dentes,
esticam-lhe a pele.
Sabem que o poema
não tem outro precursor
a não ser a fome,
nem outro seguidor
a não ser o crime."
Poema extraído da obra de Golgona Anghel
“como uma flor de plástico na montra de um talho”.
E olho em volta e só vejo gente amorosa, com uma dose excessiva de simpatia, e vejo uma multidão excitada, dinâmica e muito ativa…Mas a onda é sempre a mesma, rasante ao ponto de não obstruir o enfiamento panorâmico da linha do horizonte, e a água é morna, muito convidativa, logo na entrada e à primeira visita…Pois é! É neste banho-maria que a alegria é bebida às prestações em cálices de meia medida. Vive-se pela metade, ama-se pela metade, fere-se pela metade, perde-se pela metade e procura-se constantemente a metade, até porque a metade não sacia, não enche a medida de uma alma vazia…
E assim vive a maioria esta demanda perseguida, no meio-termo do dia sem cravar na pele os rigores da vida. Vivem na margem segura da via, na redoma do conforto e da hipocrisia, onde a adrenalina e a brisa da poesia é garantida à custa da mentira energia positiva.
Pronto, pronto desculpem lá o meu humor que hoje está por assim dizer, ácido…Foi de ter queimado a bateria…
Não gosto do aparato artificial formatado no culto do tudo igual. Tudo igual à Barbie, tudo igual ao Ken, tudo igual ao “pedigree” mediático da página social.
Não sou aderente à moda do último grito, gosto do meu-eu natural e informal, não me incomodam as brancas rebeldes espetadas no cabelo, nem as rugas que acusam a idade que tenho. Gosto de gestos simples, de flores, de olhares e de sorrisos, gosto do silêncio, da tormenta e do desassossego. E não, não tenho medo do medo.
Gosto de quinquilharias, de coisas antigas, gosto de ruas escuras e estreitas, de casas velhas e ruínas; Adoro crianças e a terceira idade, lamento o homem que vendeu a dignidade por um punhado de trocados, esqueceu o seu legado, roubou o presente, hipotecou o futuro e perdeu a sua identidade. Admito-me um “nadinha” fundamentalista, mas ainda assim e numa visão mais generalista, acredito na evolução dos tais chamados tempos de mudança da era moderna contemporânea…Contudo, deito a ressalvo as minhas reservas e espectativas para um futuro longínquo, até porque, pelo andar da carruagem, a imagem é o que é, paisagem e só de passagem.
Por fim, e em definitivo sou mesmo antitudo o que seja precedido do prefixo - BURRO, tal como, e a título de exemplo, o acordo “burrográfico”.
Esperei-te no outro dia de manhã à noitinha, mas a missiva veio vazia! Voltei à espera do dia seguinte, quando chegaste ontem para apagar do mapa o roteiro de amanhã. Lavadas em lágrimas vinham silenciadas as tuas palavras de adeus, um adeus que me soou diferente sufocado no ar por senti-lo para sempre. Levantei os olhos, do lado de fora da janela atiraste-me um beijo, deste-me as costas sem pestanejar,
e no medo de fraquejar recusaste-me aquele último olhar, (aquele do amanhã vou voltar). E conforme entraste,