sábado, 29 de novembro de 2014

Serenata

Fotógrafo: Hannah Lemholt Photography
http://honeypielivingetc.blogspot.pt/

Ali estás tu, silhueta de gazela deitada no leito do meu desassossego, como quem espera por uma serenata na seda das noites de lua cheia.
Vejo tudo o que olhos podem alcançar mas as saudades de ti só me deixam imaginar-te...Sorriso fácil, olhar franco verde cintilante, cabelos de cheiro a jasmim, lábios de cereja, abraço de hortelã, três borboletas e uma flor trepadeira…
Três borboletas pequeninas e mimosas tatuadas a nanquim no ventre de mim! Quantas vezes esvoaçaram elas a pauta do desejo em busca do beijo de travo a amora silvestre…Quantas vezes sobrevoaram elas a terra quente perfumada a café torrado e a canela…Quantas vezes cederam elas ao grito ensandecido no travesseiro do derradeiro suspiro…Quantas vezes resgataram elas a minha alma da queda no precipício…Quantas vezes…Digo eu, que daqui a fito e que em cativo a mantenho no limbo insano do meu ser…
E ali estás tu, semi-mulher, semi-menina, queda à minha espera, no contraste que tão bem e ainda me caracteriza, ora doce, ora felina, ora contida, ora atrevida, mas tu, a mulher-menina que ainda hoje me desafia e desatina…
Sabes rapariga? Fazes-me falta como a chave que abre a porta do horizonte para além do nascer do sol. Fazes-me falta para que a vida seja mais doce e mais leve de carregar.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Era uma vez um espelho...

Título: El espejo roto
Fotógrafo: Kasia Derwinska
Colecção: Flickr

Era uma vez um espelho que reflectiu uma História de Amor Verdadeiro.
Ela sabia ser-lhe um fruto proibido;
ela também sabia que se aquele amor alguma vez fosse concebido,
ele só a trairia consigo e só consigo...

Moral da história;
Amores Verdadeiros só os há lá para as terras da Estória, ou em terras onde as portas ainda não foram inventadas... 
Entretanto o espelho partiu e eles viveram felizes para sempre!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Náufrago


Título: Mi cabeza es una multitude de caras olvidadas
Fotógrafo: Kasia Derwinska
Colecção: Moment

Sabe de cor o gosto
do mosto,
como sabe de cor
os contornos do rosto,
as linhas do corpo
e a palavras doces
que lhe arrepiam o dorso.
E sempre que aninha
aos olhos da lua madrugada,
ordena as letras do seu nome
na areia da terra molhada,
que as ondas do desejo
levam em segredo
para o fundo do alto mar.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Gestos Simples
























Título: Girl and the leafs
Fotógrafo: Emmanuelle Brisson
Colecção: Moment

Durante dois trajetos consecutivos, casa-trabalho, trabalho-casa, manteve-se firme e hirta, apoiada entre o para-brisas e o vidro do carro.
Pequenina e resistente foi a folha filha do Choupo, que nem a adversidade do mau tempo lhe fez frente.
Fascinada pelo instinto de sobrevivência da mãe natureza, Asa Caída pegou naquele fio de vida com todo o cuidado, para não lhe partir nenhum bocado, e de mão aberta a um destino desconhecido, acolheu no leito do seu livro de poesia, "como uma flor de plástico na montra de um talho", com um sorriso, o pronuncio da morte, ou quiçá o presságio da boa sorte...

E assim deu um passo em frente no primeiro poema do livro;

"O remoto rei dos corvos,
Edgar Alan Poe,
deixa cair do bico,
no centro de uma biblioteca,
os restos de uma musa.
Cansados de tanta melancolia,
os ratos montam à volta um circo.

"Annabel Lee", "Annabel Lee",
guincham os bichos,
repartindo os osso entre si.

Mostram os dentes,
esticam-lhe a pele.
Sabem que o poema
não tem outro precursor
a não ser a fome,
nem outro seguidor
a não ser o crime."

Poema extraído da obra de Golgona Anghel
“como uma flor de plástico na montra de um talho”.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Medidas meias
























Título: Apple reflection
Fotógrafo: Deborah Faulkner
Colecção: Moment Open

E olho em volta e só vejo gente amorosa, com uma dose excessiva de simpatia, e vejo uma multidão excitada, dinâmica e muito ativa…Mas a onda é sempre a mesma, rasante ao ponto de não obstruir o enfiamento panorâmico da linha do horizonte, e a água é morna, muito convidativa, logo na entrada e à primeira visita…Pois é! É neste banho-maria que a alegria é bebida às prestações em cálices de meia medida. Vive-se pela metade, ama-se pela metade, fere-se pela metade, perde-se pela metade e procura-se constantemente a metade, até porque a metade não sacia, não enche a medida de uma alma vazia…
E assim vive a maioria esta demanda perseguida, no meio-termo do dia sem cravar na pele os rigores da vida. Vivem na margem segura da via, na redoma do conforto e da hipocrisia, onde a adrenalina e a brisa da poesia é garantida à custa da mentira energia positiva.
Pronto, pronto desculpem lá o meu humor que hoje está por assim dizer, ácido…Foi de ter queimado a bateria…


domingo, 2 de novembro de 2014

@nacama.com




















Título: Bare Beauty
Fotógrafo: MariaPavlova
Colecção: Royalty-free

Podia ter-lhe sido
uma brisa de poesia,
o golpe de asa
de uma fénix renascida.
Podia ter-lhe siso o orvalhar do dia…
Mas ele não quis limitar a fasquia
a um pedaço de céu azul
debruado a ouro,
ele queria a posse do céu todo.
E aquela tamanha dimensão,
ela não quis deitar
à disposição.