domingo, 23 de fevereiro de 2014

Louca (In)sanidade

Título: Memories
Fotógrafo: Kasia Derwinska
Colecção: Flickr

Porque me castigas
sem dó nem piedade,
quando me sabes à mercê
da tua vontade.
Leva-me a mão,
arranca-me o chão,
remete-me ao silêncio
e à cegueira;
reduz até a minha existência
à insignificância
de um grão de areia.
Mas nunca, por nunca,
me tires o manto da voz trovejada
que aconchega a minha alma inteira.


Sabes? Cada ferida, cada escara
que no meu corpo é infligida
é como ter a tua pele viva
cravada em cima da minha.
E nesta louca (in)sanidade
da mente,
não me sei ser gente,
sem te ser,
de outra maneira diferente.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Silêncio


Título: Woman in bed holding flowers
Fotógrafo: Antonino Barbagallo
Colecção: Photolibrary

Na muralha do silêncio,
de qual silhueta
casta,
esculpida na pétala
de uma flor de areia,
brotam pérolas de orvalho
estigmatizadas
na minha cegueira.

Silêncio
de qual mão,
corpo imperfeito,
leito
onde deito
o meu desassossego,
inteiro.

Silêncio
de qual rosto, 
nome sem gente,
grito vazio
distante,
de qual nome,
hoje
e sempre.

O meu silêncio é assim,
um rascunho
com musica de fundo.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O Menino
























Título: Woman standing on rock
Fotógrafo: Kasia Derwinska
Colecção: Flickr Open


Chegou vindo do nada
montado numa folha de jasmim,
pousou de mansinho,
ganhou corpo dentro de mim.
E de tão robusto e crescido,
o Menino já caminha
sozinho,
sem a tua mão
enlaçada na minha.
Ainda não consegui deixa-lo seguir.
Ainda não estou preparada
para vê-lo partir.
Dizer-lhe adeus,
é a mesma coisa que Morrer
sem nunca ter existido
no teu caminho.


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Chuva













Título: Girl behind window with rain
Fotógrafo: Photo PATRIZIA SAVARESE
Colecção: Flick Select

Podia ser
filha do sol,
ou filha da lua,
mas é filha
de um deus menor.
A lágrima
que cai
e me despe nua,
é dor minha,
e não
tua.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Dia Límpido

Título: Red Balloon Floating
Fotógrafo: Jonh Lund
Colecção: Blend Images

Nem o tempo, nem o cinzento do céu fez sombra ao dia límpido e ameno que se fez sentir, até o frio foi amigo ao recolher as asas do frigorífico.
O nevoeiro levantou, a poeira assentou e a água da chuva lavou a alma da cidade, levando a mágoa das pedras da calçada ao rio para morrerem na praia. Cheira a limpo, o casario de granito e os botões das magnólias já começam a deitar um cheiro colorido nas ruas, até os pardais já se ouvem chilrear no arvoredo manso junto ao mar.
Hoje o dia despertou assim dentro de mim, como um sopro de paz na vida da poesia, como uma janela que abre a porta à luz e fecha a porta à escuridão, como um abraço de asa de pomba branca que se agarra à esperança, como uma flor que brota na primavera à espera do seu amor.
Hoje acordei assim, de coração aconchegado numa nuvem de algodão doce, perfumada a jasmim…