terça-feira, 31 de maio de 2016

para lá da porta cor-de-rosa

Imagem fornecida por Castiel


























Ela vive dentro de um compartimento imenso para lá da porta cor-de-rosa, cuja chave só encasa na relíquia esculpida em latão pelo lado de fora da mão.
Ela vive dentro daquele denso compartimento com o segredo da chave em seu poder, mas sabe que o poder de a fazer rodar ainda não o pode exercer; É lá dentro que reside a responsabilidade da vida que gira em torno de si. Não é uma ilha isolada no meio do nada, ainda é um Porto de Abrigo, mesmo quando sente muitas vezes um desejo enorme de ser um grito.
Assim vive todos os dias dentro do compartimento, sempre de olhos postos nos ponteiros do tempo. E tem medo. Tem muito medo de quando exercer o poder de soltar a roda da chave, já não lhe restar tempo de qualidade para concretizar o que mais deseja e o que ainda lhe falta fazer, viver o seu Grande Amor por África.



***

“Parabéns mais uma vez mãe.
Sei que ultimamente tens andado muito stressada e cansada, e eu, e a Bia não temos ajudado...
Este é o teu dia, e quero quando chegar a casa, e o resto da noite, ver-te bem-disposta com esse sorriso lindo que tu tens no rosto. Apesar de tudo, agradeço-te por seres quem és (tanto como mulher, tanto como mãe), tenho muito orgulho na pessoa que és.
Palavras não descrevem o quanto eu te valorizo e te amo.
Palavras não conseguem agradecer tudo aquilo que fizeste, fazes e irás fazer por mim e naquilo que me ajudaste a ser!
Vamos fazer este dia valer a pena, mesmo que sejamos só as três.
Amo-te muito mãe!❤”

SMS enviada pela minha M. Inês

***
















Desenho feito pela minha M. Beatriz

Reparem só no pormenor das quatros trepadeira que vivem dentro do compartimento (I, J, B, S)

***


E o mimo manipulado digitalmente pela minha outra parte, J. Louçano


***

E é por estes motivos e por mais um outro, que me dá sempre um sorriso rasgado quando me vê, sem hoje ter tido a noção do dia que me era, que vale a pena viver dentro do compartimento que fica para lá da porta cor-de-rosa.

domingo, 22 de maio de 2016

Almas Gémeas

Kasia Derwinska, by Flickr
The solitude of prime numbers






















Queriam poder mostrar ao mundo
o quanto se gostam,
o quanto se fazem sorrir,
mesmo quando têm motivos para partir;
mas não o podem fazer,
o mundo jamais iria entender.
Só a luz do submundo
tem o poder de lhes conceder 
o grito escrito
no sorriso das estrelas.
Só na cidade das trevas,
na terra das areias desertas
podem conceber aos olhos das sombras,
a plena união das suas almas gémeas.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Inocências

Francesca Woodman
A inocência perdida 
é fodida,
debulha e tritura tudo quanto é expectativa!

domingo, 1 de maio de 2016

E porque hoje também se grita a palavra Mãe!

O que posso dizer hoje sobre a minha mãe?!
Eu era a sua única filha, não éramos muito próximas, entre nós sempre houveram grandes conflitos de personalidade. Ela era uma mulher lindíssima, mas o que tinha de rara beleza, também o tinha em dose excessiva de austeridade militarista. Não era de sorriso fácil, nem oferecia grandes manifestações de amor e carinho. Mas no que tocava a formação e educação era rígida e não deixava por mão alheia aquilo que só a ela lhe competia. Ensinou-me o significado da liberdade e da consequente maior responsabilidade, assim como me empurrou para a aprendizagem compulsiva de que a vida tem que ser conquistada a pulso de trabalho e muita dedicação. Os meus pais sempre foram pessoas de posses, mas o supérfluo nunca me foi dado de mão beijada. Se o queria, tinha que o conquistar, deitando mão ao trabalho para o conseguir adquirir. Naquela altura, aquela postura de dureza crua feria-me profundamente. Recusava-me a concebê-la no meu entendimento. No entanto, hoje, só tenho que lhe agradecer tal rigidez de conduta. Formei-me, construí-me e constituí família à custa de muito trabalho, de muito esforço e de muita dedicação. Não devo nada a ninguém é um facto, mas sou de igual forma uma mulher de sorriso pouco fácil, herança antiga do matriarcado. Nem tudo nesta vida que dá fruto, se faz brotar rosa sem espinhos.
No tempo, herdei este legado de raiz sólida, que faço hoje por transmitir às minhas duas filhas, com alguns ajustamentos, obviamente; menos dose de austeridade, e mais algum do meu sorriso espontâneo ;)
Acho que é esse o papel de mãe, ensinar os filhos a trabalhar e a fertilizar a terra com vista a colher bons frutos. Eles nascem de nós, mas não são nossos, pertencem ao mundo.