sábado, 24 de junho de 2017

Cage

Noel Oswald - Cage

Prisioneira, eu? Tenho para mim que o sou sim.
Ainda que tal afirmação de conteúdo aparentemente suspeito e duvidoso, se mostre desfasado na era do tempo moderno, ou contemporâneo, ou o que for, confirmo que sou prisioneira sim, não de ti, nem de ninguém, mas exclusivamente de mim.
Em modo de gaiola de ave canora, vejo-me cativa do meu corpo franzino, da razão da minha mente, do desassossegado da minha alma e do meu batimento cardíaco militarmente disciplinado. Em boa verdade, sou refém da visão que tenho do mundo que me rodeia, que me leva a tomadas de posição de defesa severa, sem grandes manifestações de exteriorização. (Os egos nunca não devem falar mais alto que o bom senso, e os olhos por vezes devem de permanecer fechados para não dizerem disparates).
Não é à toa que afirmo que o “meu” mundo é pequenino do tamanho de uma ervilha. Já por esse mesmo motivo não arredo pé dos meus olhos e dos meus poros para fora. Ali. Ou seja aqui dentro do meu eu, e em voz de oposição, existe uma imensidão vasta, quase do tamanho do infinito pincelado em tons de cinza, que ora está em estado de vazio, ora está em estado prenhe, conforme os rigores do tempo. Ali, ou seja aqui dentro, por norma as ruas da cidade estão desertas por falta de gente que as queira humanizar, e o mar arisco, na sua adversidade testa a personalidade, o engenho e a arte de quem se queira atreve-lo a navegar. O limbo, o outro lado vácuo é o meu estado de sítio, fujo dele sempre que me é permitido, mas não o combato, nem lhe resisto. Ao invés disso, aninho-me em posição fetal no ventre do abismo, que permanece na outra margem de mim, onde reside e eternamente persigo o meu maior desafio, o de alcançar aquela outra morada tão desejada.