![]() |
Sayaca Maruyama |
Acordei do outro lado da rua ainda com o pijama vestido. Estava de costas voltadas ao muro da vizinha de cigarro aceso na ponta dos dedos, quando do nada te vejo chegar ao volante de um descapotável azul-escuro. (Está visto que não percebo nada de carros!)
Estacionaste o carro mesmo ao meu lado, mas a minha silhueta, o alvo da tua cegueira, está do outro lado, atrás da cortina da minha janela de guilhotina, a estudar sentada à escrivaninha. (A minha falecida mãe estaria a fazer o jantar e o meu pai ainda não teria chegado do seu último café diário).
Permaneço obsoleta à margem do enredo, mas consigo ver claramente o meu ar de espanto a olhar para ti num sorriso franco rasgado de orelha a orelha, como se não houvesse amanhã. Saíste do carro devagar como se estivesses a filmar a última cena de um filme de cinema. Retenho na memória uma imagem turva em tons de sépia, desenhada a pau de canela numa folha de papel cenário e uma figura altiva de cabelos grisalhos, olhos negros num rosto vincado de tez morena e alma cigana. Eu, ainda debutante saí de casa saltitante ao teu encontro com aquele brilho inato de menina ingénua e inocente. Meus Deus, como nessa altura ainda era uma alma crente…
Sinto-me impotente, observo-nos do outro lado da rua sem nada poder fazer, tu não me ouves, tu não me vês e ainda não me conheces.
Pegaste-me na mão direita, levaste-a contra o teu peito, deste-me um sorriso e segredaste-me ao ouvido do lado do coração, para que as paredes do mundo não te pudessem ouvir, que eu era tal e qual como me tinhas imaginado, um Sonho, e um Sonho assim deve permanecer, intacto, imaculado no tempo e no espaço para nunca morrer.
Deste lado da madrugada, a janela embaciou a rua, o céu perdeu a lua, e o filtro da vida continua a queimar a mortalha do sonho.
Estacionaste o carro mesmo ao meu lado, mas a minha silhueta, o alvo da tua cegueira, está do outro lado, atrás da cortina da minha janela de guilhotina, a estudar sentada à escrivaninha. (A minha falecida mãe estaria a fazer o jantar e o meu pai ainda não teria chegado do seu último café diário).
Permaneço obsoleta à margem do enredo, mas consigo ver claramente o meu ar de espanto a olhar para ti num sorriso franco rasgado de orelha a orelha, como se não houvesse amanhã. Saíste do carro devagar como se estivesses a filmar a última cena de um filme de cinema. Retenho na memória uma imagem turva em tons de sépia, desenhada a pau de canela numa folha de papel cenário e uma figura altiva de cabelos grisalhos, olhos negros num rosto vincado de tez morena e alma cigana. Eu, ainda debutante saí de casa saltitante ao teu encontro com aquele brilho inato de menina ingénua e inocente. Meus Deus, como nessa altura ainda era uma alma crente…
Sinto-me impotente, observo-nos do outro lado da rua sem nada poder fazer, tu não me ouves, tu não me vês e ainda não me conheces.
Pegaste-me na mão direita, levaste-a contra o teu peito, deste-me um sorriso e segredaste-me ao ouvido do lado do coração, para que as paredes do mundo não te pudessem ouvir, que eu era tal e qual como me tinhas imaginado, um Sonho, e um Sonho assim deve permanecer, intacto, imaculado no tempo e no espaço para nunca morrer.
Deste lado da madrugada, a janela embaciou a rua, o céu perdeu a lua, e o filtro da vida continua a queimar a mortalha do sonho.
Os Sonhos são Asas de Borboletas, belas, frágeis e singelas como a porcelana chinesa, casquinha de ovo, pintada à mão com cores proibidas.
Os sonhos podem ser asas de borboleta mas sem eles a vida não faz sentido. Há que cuidar deles, regá-los e nunca os deixar morrer.
ResponderEliminar:)
O teu texto é tão lindo Sandra.
Um beijo e um excelente feriado :)
O meus dias são elementos compostos por dois planos paralelos, de um lado abraço a vida conforme me é servida e do outro lado abraço o sonho. O sonho é um lugar só meu, o outro lado da cor que me dá vida a mim.
EliminarObrigada minha Amiga :)
Beijinho imenso nesse teu coração de menina.
Que lindo,Sandra.Nem sei que dizer...Olha,sinto-me impotente também;)
ResponderEliminarUm beijinho quentinho para atenuar este calor*
Til, assim deixas-me sem jeito Mulher :)
EliminarBeijinho recebido com muito carinho que retribuo com o mesmo carinho.
Se não houvesse o sonho, acredito que a vida se tornaria num cárcere sem cor nem vida. Vivam os sonhos coloridos que nos dão vida, especialmente aqueles em que podemos mexer, voltar atrás e continuar no dia seguinte...
ResponderEliminarOs sonhos são como as alavancas, vazem-nos mover no sentido positivo da vida.
EliminarBeijinho grande :)
Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir.
ResponderEliminarSeja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades
para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E
esperança suficiente para fazê-la feliz.
(Clarice Lispector)
Um texto muito belo, Sandra.
Um beijinho
Miss Smile, muito obrigada :)
EliminarHá pessoas que aqui me deixam sempre sem palavras, mas de coração cheio, assim como a menina MS.
Beijinho de volta com amizade e carinho.
O sonho permite o sono mas não o adormecimento.
ResponderEliminarSonhar é estar acordado. Quando o sonho se tornou adormecimento é bem possível que a dor que in extremis nos acordava antes de se fazer sentir deixe de funcionar.
É uma lida manter o sonho sem adormecermos na dor.
Que nunca nos falte força, a ti e a mim, para estarmos despertos.
Que nunca mesmo, Luís:)
EliminarObrigado
Os sonhos são nossa válvula de escape. O mundo lá fora de nossos sonhos é cruel. Duro. Real.
ResponderEliminarLinda a descrição. Cinematográfica (já disse e repito!)...
Ai moço, deixas-me sempre sem jeito :)))
EliminarBeijinho daqui até aí.