sábado, 31 de maio de 2014

Rosto sem Retrato

Hoje encheu-se-me a alma de mar
Porto, 31 de Maio de 2014

Neste navegar até “ti” perdi-me de mim, só, no meio do oceano sem ter uma mão ou um casco de madeira velha onde me agarrar. Sinto falta de colo, sempre me fez falta desde criança. A minha mãe não me deu alma, deixou-me apenas como herança as presas e as garras onde me firo, onde afio o fio do meu negro feitio, onde me agarro e onde me tenho a salvo deste mundo sem sentido.
É caricato, é irónico! Mas só assim me sinto, no extremo do meu limite, no auge da ruína, na teoria do caos, no trágico, no polémico, no perverso, no manicómio insano da minha mente.
Sou um fosso de mim mesma, sem vergonha de assumir a catástrofe emocional, o desastre, a mão imperfeita atarraxada a um corpo de patinho feio quando me olho ao espelho. Não me sei ser de outra maneira sem me dar inteira, quer na alegria, quer na tristeza, até à última réstia de mim se ver resumida a pó de cinza. Só assim sinto que a vida passa dentro de mim, não atrás nem ao lado como diz um qualquer ditado.
Se sou feliz assim? Sou sim, entregue só a mim e a mim mesma, sempre me conheci assim desde o dia em que me conheci.
Como disse, assumida sem enfiar a cabaça na areia, não sou exemplo, não sou receita, sou espontânea, verdadeira, sou intensa e acima de tudo mais teimosa que eu mesma.