segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Folhas Caídas

Jardim de Arca-de-Água
Porto

Conhece de olhos fechados o trajeto diário que faz o carro de casa ao trabalho; um percurso citadino, de relevo descendente ao rio, com umas bolsas de praças e jardins pelo meio do caminho. Podia ir pela auto-estrada, para encurtar a distância e poupar tempo, mas não troca fachadas de granito colorido por corredores de asfalto cinzento, passeios humanizados a calçada portuguesa por faixas de segurança, nem troca plátanos, carvalhos americanos e até mesmo oliveiras pela luz imensa dos mega candeeiros.
Hoje, mais um dia de rotina, ao descer a avenida, reparou que o tapete colorido tinha sido removido. Foi aí, que mais adiante, viu os restos mortais da primavera, ainda remanescentes a monte na berma do passeio, a serem varridos para o contentor do carro do lixo à mão de um agente administrativo de limpeza.
Perante aquele cenário de árvores carecas e ruas despidas, bateu-lhe bem fundo a imagem de um quadro macabro da História da Humanidade. A História das Folhas Caídas que foram varridas sem vida para valas comunitárias.
Invadida pela nostalgia olhou para o espelho retrovisor, passou a mão pelo cabelo, abençoou a vida que tinha e pensou em voz alta.
- Hoje é um bom dia para fazer um corte radical.