quarta-feira, 27 de abril de 2016

Se não fosses tu, Miss Smile...

 Enzzo Barrena by Deviant Art - ENZZOK

O texto que entendi também aqui partilhar convosco aconteceu em sede de resposta à pergunta lançada por Miss Smile, Porque Escrevo? Ali, publicada originalmente.
Como tive oportunidade de lhe confidenciar em privado, esta questão foi de grande importância para mim. Obrigou-me a fazer uma viagem no tempo e a fazer o ponto de situação ao meu eu afectivo, levando-me de encontro à capacidade, há já algum tempo perdida, de olhar-me nos olhos de forma nua e crua sem ter medo de meter o dedo na ferida.
Concluí por fim, que escrever deixou de ser uma necessidade para mim. Hoje nada mais é que um registo avulso e escasso no tempo, com vista a perpetuar a memória da minha memória, para quando esta estiver falida. Mas se fizer uma análise, ainda mais crítica, admito que este gesto de investimento interior não deixa de ser de igual forma uma pretensa vaidade em me dar a conhecer a quem do outro lado me lê.

Com tudo isto, e por mais isto, por aqui, para já me fico, mas não fico sem deixar de desejar todo o meu bem-querer a Miss Smile.

Se não fosses tu, Miss Smile, o meu eu não se teria confrontado tão rápido.
Obrigada minha Amiga :)

***

Porque escrevo? Perguntas-me tu, Miss Smile.
O título da tua publicação que imputou esta pergunta poderia muito bem ser uma das minhas respostas, transferindo o sorriso como resultado de um registo escrito macerado. Mas essa realidade, hoje não é a minha verdade, acontece que a tua questão coloca-se hoje e agora, e hoje não te sei dizer o real motivo porque escrevo.
Se fizer uma análise retrospectiva e introspectiva sobre a questão, posso dizer-te que em tempo, não há muito tempo, mas há algum tempo escrevi muito num determinado registo. Fiz da escrita uma terapia afectiva, como quem procura a cura de toda a desventura na poltrona de uma consulta de psiquiatria.
Ao invés, a palavra assistiu-me como elemento medicinal cicatrizante. Quantas vezes, lambeu ela a minha ferida em tempo aberta, e outra tantas escoriações! Posso dizer-te que foi nos piores momentos da minha vida, de dor e de agonia que brotaram os meus escritos mais bonitos. Hoje, a ferida está cicatrizada e a sua marca permanece escarificada no corpo da minha alma. Não tenho saudades nenhumas desses momentos, longe de mim os quero. Agora tenho muitas saudades e sinto muita falta dos meus escritos mais bonitos. Olho para eles, e questiono-me de como fui capaz de conseguir tamanhas façanhas, algo de que hoje, não sou capaz.
A verdade é que cada vez mais, escrevo cada vez menos. A memória tem vindo a perder a capacidade de armazenar e de processar informação, e o tempo útil é canalizado de outra forma. E com isto te digo que a minha teia, a cada dia, está mais perto de deixar de ser tecida. Já muito vivi para o meio tempo de vida que já vivi, e já muito escrevi e já muito registei, mas redundância do meu sentir, remete-me hoje para o silêncio, sobe pena de não me querer ver como uma alma obsoleta, e de não me querer ouvir como um disco riscado perturbador.
Hoje, como te disse, não sei porque escrevo, o objectivo primeiro deixou de fazer sentido. Talvez escreva na tentativa de encontrar respostas a perguntas de rectórica; talvez procure atingir a paz no equilíbrio emocional e afectivo, ou talvez queira apenas deixar o meu registo escrito como prova de ter existido. Mas de uma coisa eu tenho a certeza, o meu escrito mais bonito, não será escrito, permanecerá imaculado no silêncio de uma folha de papel branca.
Eu, bem o tento, mas sei que um dia chegarei lá.