quarta-feira, 8 de maio de 2013

Maria Boneca























Título: In the brightest hour of my darkest day
Fotógrafo:^skye.gazer
Colecção: Flickr

Sentada na cadeira de baloiço, herança de sua avó paterna, simplesmente se quer só, no embalo do tempo talhado na madeira maciça, a mesma dureza que lhe deu corpo à alma e lhe cristalizou o medo no olhar frio e vazio.
Enquanto se deixa em espera, esconde-se da gente e do mundo remetendo-se ao grito do silêncio autista. Não ouve, não fala, não quer saber de nada, nem de ninguém, limitando-se ao gesto do balanço lento em defensivas programadas, de olhos postos na janela e na porta do seu recanto.
Sabe e sente que está para breve o presente do tão esperado momento. A brisa passou-lhe pela janela e materializou o Senhor que permanece do lado de fora à espera da sua mão aberta.
Sabe que após a batida da porta, lhe esperam uns vincos acentuados e uns quantos fios brancos a acrescentar ao seu olhar vidrado, e sabe também que nunca há-de perder o sereno, mesmo que ao abrir da porta, se veja Maria Boneca morta.