Mercuro B. Cotto |
Dizem
que as palavras falam.
Há
quem diga que umas contam estórias,
outras
rejubilam actos heróicos nos gritos da vitória,
e
outras há, que calam histórias
no
silêncio da memória.
Agora,
tem dias que as minhas falas
são
que nem um punhado de areia seca
sem
fio de amarração.
Escorregam-se-me
por
entre os dedos da mão
e
caem por terra sem pé no chão.
Ainda
assim, nos dias assim-assim,
lá
me saltam algumas palavras da gaveta,
alinhavadas
uma-a-uma,
nas
entrelinhas da seda da minha teia.
E,
os mantos a retalho lá se tecem,
ora
doces, ora amargos
consoante
os âmagos
que
me despem.
Mas
todos os modelos me vestem.
(mesmo
os que se mostram
mais desajustados
e fora de prazo).
Uns
aconchegam-me
a
palavra ao corpo da alma,
outros,
no lugar do olhar, desenham-me
círculos
com buracos vazios.
E
mais há, aqueles modelitos mais coloridos,
que
sobreaquecem o vício do desejo
por
debaixo da pele;
que
ora me desperta o travesseiro
do
desassossego,
ora
me confunde a rosa dos ventos.
Por
fim, para além da pele que há em mim
ainda
me sobrevive o rasto
de um rosto marcado pela desilusão,
qual armadura mascarada na palavra não (con)sentida.
A tal indumentária que me capa
o
silêncio do grito agudo,
rasgado na ferida.
rasgado na ferida.