terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Estação de São Bento

Titulo: Railway Station Clock - Estação de São Bento - Porto
Fotógtrafo: Leonardo Patrizi
Colecção: E+
Já reparaste rapariga! Ainda ontem era Dezembro e pelo andar da carruagem amanhã Dezembro será!
Caramba, como um ano passa depressa, e a gente nem se dá conta! Também não admira, quando a unidade de medida se limita à contagem de uns míseros 31 dias…
Pois é! Mas enquanto o resto do tempo levanta voo, nós, os comuns mortais, cortamos caminho em sentido contrário como quem dobra o tempo na força do braço de ferro. Para além de que, como seres umbilicais e petulantes que somos, fazemos tábua rasa da nossa condição frágil e humana, tomamos como adquirido a nossa maior importância, e não lhe reservamos, ao tempo, um lugar sentado ao nosso lado durante a viagem.
Sabes rapariga! Quiçá amanhã, a traça da Estação de Dezembro se faz modelo, e contagia a traça das demais Estações e Apeadeiros que nos contam de Janeiro ao resto do ano inteiro. Quiçá, um dia até perdemos o medo e abrimos a mão, e o coração, e abraçamos a vida conforme ela é nos é servida no prato do dia, e aí talvez, o tempo até seja generoso connosco e nos concede um par de asas para rasgarmos o ar a seu par.

E agora para terminar, e como estamos na recta final do itinerário anual, que é sorvida como se não houvesse amanhã como se fosse a única paragem digna de festejo do ano inteiro, deixo-vos na companhia da “Estação de São Bento”, a estação de eleição da minha Cidade Invicta. O belo poema de Henrique Manuel Bento Fialho extraído do seu livro de poesia contemporânea “Estação 2012” publicado pela Mariposa Azual.

“Não queremos ver o que se esconde dentro da névoa.
Fecharmos os olhos, manearmos a cabeça,
para não vermos o que, supomos, se esconde dentro da névoa.
Num dia de Primavera, com a chuva a levantar da terra
o cheiro das coisas em decomposição.
Ao fundo por cima das árvores, as nuvens bailando,
fazendo tremer os dias. Ele estava triste em 1974.
Ninguém compreenderá este cansaço silencioso
com que acordamos todos os dias para a morte,
os dois, estranhamente separados pelo tempo,
talvez por esse mesmo tempo que se esconde dentro da névoa
e que nós não queremos ver, não queremos entender.
Olho, do outro lado da rua, a roupa esvoaçando num estendal.
Há uma tristeza que se anuncia na forma delicada
com que olhamos, os dois, estas coisas.
Um fio de sangue a escorrer-nos dos olhos,
um fim doloroso à nossa espera, um sonho errante.
Em silêncio te digo, descansa em paz os teus tormentos.
Breve, voltaremos a cheirar a terra que ora se levanta.”

Por fim peço-vos; relevem o meu estado de espírito aziado, e mais vos peço que nunca se esqueçam que a vida é um presente digno de ser desembrulhado com entusiasmo todos os dias do ano, independentemente dos rigores e das adversidades do tempo que nos vão queimando às prestações..
Resumindo e baralhando, façam por serem felizes e por fazerem alguém feliz. Quanto a mim apenas vos digo que vos guardo e vos estimo na minha teia o ano inteiro, e por isso desejo-vos tudo de bom e assim.

Beijos e Abraços

Sandra