NOELL S. OSZVALD |
O filamento incandescente da memória tem vindo a padecer de hiatos de intermitência entre as terras saudade e as terras do esquecimento. A ampulheta da cegueira partiu-se no meio do recheio do sótão desarrumado, deixando espalhados ao acaso os estilhaços do tempo da espera.
O fio do
tempo desatou o nó da clausura, implodindo a cadeira vazia quase em estado de
asfixia. Não lhe apetece escrever, não lhe apetece arrumar os cacos, não lhe
apetece (re)lembrar, até porque isso implicaria repovoar a dor da saudade, mas
também tem medo de esquecer e de cair no esquecimento, e a escuridão permanente
está mesmo ali, na iminência de se instalar definitivamente.
À cautela,
resta-lhe desligar o interruptor e acender uma vela no parapeito interior da
janela, e, mais uma vez sabe que vai esperar que o destino fatídico se cumpra
até à queda do último pingo de cera.