Jerry Uelsmann |
Ora aqui estou eu de fronte para uma folha de papel
virtual imaculada a lançar-lhe aquele olhar de matadora, mas a miúda, mais
teimosa que um jumento, ignora-me qualquer resposta. Só pode ser publicidade
enganosa, esta história dos olhos serem o espelho da alma. Nesta mesma medida
começo a duvidar da famosa teoria da brancura do algodão, que não engana.
Caramba, como esta luta em busca da conectividade é inglória. Estaremos perante
uma realidade turva que se mostra desajustada à visão semicerrada, que me dá
sempre jeito para filtrar impurezas?! Ou estaremos perante uma realidade de
paridade impraticável quando é claramente visível e evidente o princípio de
equidade?! Podemos também estar numa realidade alienígena, que nos olha como se fossemos
uns seres estranhos e aberrantes acabados de ser paridos da tendinha dos
horrores! Ou então, estamos definitivamente numa realidade mundial onde impera a cegueira autista.
Ora de volta ao início, aqui permaneço eu, queda e
serena (quase a bater no teclado) a tentar comunicar com a miúda interactiva,
mas ela continua na sua com a sua brancura luminosa e teimosa sem me conceder a
mínima expectativa. Agora o que me dá ganas não é a miúda, mas sim o que ela
representa. A realidade do mundo acontece deste lado, do lado de fora da porta, onde
estou eu, onde estás tu, onde estamos todos nós, que preferimos o conforto da
palavra autista.
Agora para terminar, deixo-vos com mais umas
palavrinhas gastas.
No silêncio de um olhar
dizem-se coisas maravilhosas
que as palavras
não têm capacidade de comportar.
As minhas estão gastas
e tu mundo,
lamentavelmente,
estás muito longe de mim...