sexta-feira, 1 de abril de 2016

* E caí no ópio como numa vala

Titulo: Opium Dreams. Part three
Fotógrafo: Olena Chernenko
Colecção: Vetta
A palavra tem a capacidade extraordinária de condução, indução e de expressão. Esboça contornos, enche os egos da alma e projecta expectativas viciantes na mente humana, como se de uma droga pesada se tratasse. Contudo, Maria “Papoula” tem um grande senão, o da não resolução da matéria em questão. Ainda que o seu efeito terapêutico seja de grande motivação e o seu efeito alucinogénio não tenha asas de limitação, no que respeita à matéria da matéria inteira, verifica-se que a falta de matéria deixa a matéria da matéria muito a desejar, e, toda a matéria que se quer corpo tangível por inteiro tem muita sede de gritar.
Pois será por conta do ópio, que a palavra se vê isolada para além da hora desejada, e, quando para além dela não existe mais nada, a alma esvazia e o corpo ressaca.

*Opiário
Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

4 comentários:

  1. E a palavra afoga-se no vazio, e sentimos como se a tivéssemos perdido. Mas ela regressa sempre. Porque nós somos o corpo da palavra.

    Minha Sandra, a palavra vive em ti, é tua, somente tua. E nós estamos aqui, eu estou. Para ti.

    Um beijo nesse teu coração lindo.

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  2. A palavra é um vício que não se quer combater. Deixa-o sempre correr nas tuas veias Sandra.
    Lindo texto
    Beijos grandes :)

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  3. Para mim, as palavras são caminhos que me levam ao coração. Esse é o meu entendimento. E eu gosto das tuas palavras, porque me tocam, vindo sempre na mesma direção.

    Um beijinho, querida Sandra

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  4. Palavras que, no entendimento da autora, se perdem no vazio da ressaca. Não me parece. E a prova disso é que elas aí estão, lúcidas, quase desdenhando da tentação. Digo quase porque a respeitam, a lucidez tem o seu preço.

    Um beijinho, Sandra :)

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