Titulo: Railway Station Clock - Estação de São Bento - Porto
Fotógtrafo: Leonardo Patrizi
Colecção: E+ |
Já reparaste rapariga! Ainda ontem era Dezembro e
pelo andar da carruagem amanhã Dezembro será!
Caramba, como um ano passa depressa, e a gente nem se
dá conta! Também não admira, quando a unidade de medida se limita à contagem de
uns míseros 31 dias…
Pois é! Mas enquanto o resto do tempo levanta voo,
nós, os comuns mortais, cortamos caminho em sentido contrário como quem dobra o tempo na força do braço de ferro. Para além de que, como seres
umbilicais e petulantes que somos, fazemos tábua rasa da nossa condição frágil e humana,
tomamos como adquirido a nossa maior importância, e não lhe reservamos, ao tempo, um lugar sentado ao nosso lado durante a viagem.
Sabes rapariga! Quiçá amanhã, a traça da Estação de
Dezembro se faz modelo, e contagia a traça das demais Estações e Apeadeiros que
nos contam de Janeiro ao resto do ano inteiro. Quiçá, um dia até perdemos o
medo e abrimos a mão, e o coração, e abraçamos a vida conforme ela é nos é servida
no prato do dia, e aí talvez, o tempo até seja generoso connosco e nos concede
um par de asas para rasgarmos o ar a seu par.
E agora para terminar, e como estamos na recta final do itinerário anual,
que é sorvida como se não houvesse amanhã como se fosse a única paragem digna de festejo do ano inteiro, deixo-vos na companhia da “Estação
de São Bento”, a estação de eleição da minha Cidade Invicta. O belo poema
de Henrique Manuel Bento Fialho extraído do seu livro de poesia contemporânea “Estação 2012” publicado pela Mariposa
Azual.
“Não queremos
ver o que se esconde dentro da névoa.
Fecharmos os
olhos, manearmos a cabeça,
para não vermos
o que, supomos, se esconde dentro da névoa.
Num dia de
Primavera, com a chuva a levantar da terra
o cheiro das
coisas em decomposição.
Ao fundo por
cima das árvores, as nuvens bailando,
fazendo tremer
os dias. Ele estava triste em 1974.
Ninguém
compreenderá este cansaço silencioso
com que
acordamos todos os dias para a morte,
os dois,
estranhamente separados pelo tempo,
talvez por esse
mesmo tempo que se esconde dentro da névoa
e que nós não
queremos ver, não queremos entender.
Olho, do outro
lado da rua, a roupa esvoaçando num estendal.
Há uma tristeza
que se anuncia na forma delicada
com que
olhamos, os dois, estas coisas.
Um fio de
sangue a escorrer-nos dos olhos,
um fim doloroso
à nossa espera, um sonho errante.
Em silêncio te
digo, descansa em paz os teus tormentos.
Breve,
voltaremos a cheirar a terra que ora se levanta.”
Por fim peço-vos; relevem o meu estado de espírito
aziado, e mais vos peço que nunca se esqueçam que a vida é um presente digno de
ser desembrulhado com entusiasmo todos os dias do ano, independentemente dos
rigores e das adversidades do tempo que nos vão queimando às prestações..
Resumindo e baralhando, façam por serem felizes e por
fazerem alguém feliz. Quanto a mim apenas vos digo que vos guardo e vos estimo na minha teia o ano
inteiro, e por isso desejo-vos tudo de bom e assim.
Beijos e Abraços
Sandra