Celeste Caeiro a Mulher que baptizou a liberdade com uma Flor.
Bem haja.
Contam-se hoje 41 anos desde que o Largo do Carmo foi
cercado por carros blindados e soldados. Celeste Caeiro florista a caminho de
casa com um molho de cravos aconchegados no regaço foi interpelada por um
soldado, que educadamente lhe pediu um cigarro.
Ao que Celeste, menina em moça ladina prontamente lhe
respondeu;
- “Não tenho um
cigarro, mas posso oferecer-lhe uma flor, que também se pode oferecer uma flor
a um homem!”.
O soldado aceitou a flor e colocou-a dentro do cano silencioso da sua espingarda.
Um gesto simples, de gentileza estrema, que contagiou
a alma de populaça, e ao que, e em menos que nada, vê-se o cravo empunhado na
ponta de toda a arma e na mão da população por toda a praça.
Ora, como vêm, o grito da liberdade foi baptizado por
uma flor à mão de uma mulher do povo, a tão nossa e maravilhosa Revolução do Cravo.
Mas hoje não venho aqui fazer relatos históricos,
venho apenas dizer que nada tenho contra os dias da comemoração, até porque
todos o fazemos quando contamos mais um ano de vida. Tenho para mim que os dias
de comemoração são dias ímpares de excepção; acontece que a cidadania madura e a vida sadia
faz-se Gente no dia corrente, à mão de gente simples, anónima e crescida. Tal e qual como diz o nosso saudoso, Zeca Afonso, Homem de luta que foi a par e a favor do povo, “O povo é quem mais ordena.”
Por isso comemoremos hoje, mais um ano de “liberdade”, mas há que não esquecer,
que compete ao povo carregar no peito o seu verdadeiro conceito, e há que não
esquecer também que compete ao povo, todos os dias a cada dia, arregaçar as mangas e tomar o poder da Flor à sua mão em prol de um país melhor.
Há que lutar diariamente contra a "liberdade" encapotada, que muito
bom nome grita de mão levada ao peito, em proveito do engrandecimento próprio.