sábado, 21 de setembro de 2013

Maria Ruiva a Peça de Teatro


Título: Autumn Walk
Fotógrafo: Olena Chernenko
Colecção: Vetta

Todos os dias, à mesma hora o portão do casarão abre, e eis que surge um traço de miúda que se afigura na paisagem como uma miragem, uma febre de fenos, um delírio de verão.
De lá vem descalça Maria Ruiva, a menina das sardas endiabradas, bamboleando-se lentamente até à fonte, deixando atrás de si um rasto de perfume de flores de jasmim, paralisando o tempo que a vê passar.
De costas voltadas à plateia, ignora a cobiça dos olhos alheios e debruça-se sobre a fonte. Nas mãos leva a frescura da água à boca, ao rosto e ao pescoço que lhe desce a fio pelo fio do corpo. Ergue-se num movimento de camara lenta, endireita-se como quem sacode a poeira e com os dedos ainda molhados penteia para trás os seus longos cabelos vermelhos.
A passarada faz coro em melodia e o cenário fica perfeito quando a brisa atrevida trepa aquela rebeldia vestido acima fazendo a delícia de quem aplaude e aprecia.
Composta e recomposta olha em volta, suspira, esboça um derradeiro sorriso, e conforme entrou em palco, lentamente se afasta, diluindo-se no horizonte do sol poente como uma estrela de cinema em fim de cena.