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Artur Pastor - Praça do Cubo
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Caro
Impontual, apreciei bastante este seu testemunho, tanto, ao ponto de me fazer exercitar os
dedos. Portanto,
alavanquei-me nas suas palavras e desenhei a ultima tendência das operações de cosmética
conservação, realizadas nos
edifícios de génese construtiva tradicional e secular, à boa moda da nossa
mentalidade burguesa. E como está na moda o chavão da reabilitação…
A
reabilitação conforme se extrai da essência da sua definição, consiste
na restituição de algo
ao seu antigo estado, habilitando-o de novo. Ou seja, a reabilitação de um
edifício deve ocorrer pela sua conservação / preservação integral, interior e
exterior, considerando o seu valor patrimonial e histórico, independente das
suas características arquitectónicas, mais ou menos ricas, mais ou menos eruditas.
Excluindo esses edifícios exemplares, à partida identificados e protegidos
pelas entidades de tutela competente, a reabilitação tem ocorrido pela conservação
parcial dos demais edifícios antigos, por via da preservação exclusiva do seu
invólucro com relação directa com o espaço publico que se lhe apõe.
Pois
é! Hoje em dia, os edifícios “bonitos”
oferecem sempre um corpo muito apelativo aos olhos de quem nada entende das
disciplinas da arquitectura, da histórica e da cultura. Pobres ou esfomeados, os
ditos são corrompidos com programas funcionais megalómanos,
desproporcionais ao tamanho do seu modelito estrutural, rebentando com as
costuras da urbanidade e da habitabilidade da cidade. Aqui o “dolo” até corre bem para a boa imagem
da paisagem e para a boa passagem do turismo.
E agora?!
Onde está a alma genuína? Onde está o ser? Onde está o sentir? Onde está o seu
conteúdo material e substantivo? Onde ficarão registadas as memórias da
história? No fachadismo privado sobreposto ao interesse público?
Aqui o
dolo é nocivo para o povo, o vulgo cidadão
comum, que vai perdendo a passos largos a sua identidade cultural, a sua cidade,
a sua habitabilidade e o seu contexto na sociedade da cosmética estereotipada
que em busca de lucro faz do lar uma casa deserta.
Portanto,
nesta conjuntura leviana, a beleza casa bem com a ganância, com a FALSA ignorância
e com a inteligência subversiva.
Sabe
Impontual, o Porto transformou-se numa metrópole muito bonita e atractiva ao
olhar do turista, mas não é o meu Porto, o que guardo com saudade na
memória dos meus tempos de menina. A Ribeira foi purgada da sua alma,
remanescendo do seu legado os meninos que ainda desafiam o Rio Douro do tabuleiro
inferior da Ponto D. Luiz I. Mas até hoje, esses ladinos, para além da carolice
vão à disputa da moeda em troca do espectáculo do salto.
Hoje
o Porto é um porto de passagem com muito movimento mas sem a sua gente dentro.
Não há como deixar registo afectivo da sua história na memória da nossa malta
nova.
E
posto isto, caro Impontual, vertendo esta imagem para a beleza da mulher, é um
facto que a sua beleza pode ser estonteante e ao mesmo tempo perigosa se for
indevidamente ousada a seu favor e a seu bem prazer. Mas aí, cabe ao seu
oponente ser dotado de pulso firme e forte para não se deixar ofuscar e imbuir
pelo momento a ponto de perder o norte e o bom senso.
A
beleza só é realmente bonita quando cria *“(…),
seres alma
e sangue e vida em mim”.
*Florbela Espanca, Ser Poeta
em ‘Charneca em Flor’