sexta-feira, 25 de abril de 2025

A Liberdade e a Liberdade



A Liberdade é um Ser frágil admirável, que nem uma flor que brota pujante na Primavera, quando cuidada e alimentada o ano inteiro. 

O coração da nossa Jardineira, Celeste Caeiro, sem o saber já o sabia e baptizou a nossa Liberdade, com a nossa flor sazonal, de corte, o Cravo. 
Sem Ela, a nossa Liberdade não seria bonita, singela, tão pouco perfumada, seria apenas uma memória, quiçá intimidatória, da ocupação militar do Largo do Carmo com carros blindados e soldados, em 25/04/1974. 

Acontece que, sem respeito e sem responsabilidade a nossa Mulher Liberdade defraudada, definha e sem capacidade de se defender é usurpada a favor de valores menores. 

Portanto, caríssimos, alimentem e comemorem a Liberdade como se fosse Natal, todos os dias em vossas casas! 


Aproveito ainda este dia, que marca 51 anos de Liberdade no nosso país, para homenagear, Jorge Mario Bergoglio, o Ser, o Homem, o Grão Mestre Jardineiro do povo e do mundo inteiro, que nos deixou um legado extraordinário de Bem-Querer a favor do Bem Comum. 

Façam por serem felizes e por fazerem outros felizes. 

Beijinhos e Abraços 

Sandra


terça-feira, 16 de agosto de 2022

O Meu Zé, 11/08/1941 - 13/08/2022



Faz muito tempo que não escrevo para mim!
No entanto, esta Tua nova viagem não poderia deixar de passar despercebida numa folha de papel vazia.

Viveste sempre de forma ousada, nunca gostaste da rotina! Essa senhora para ti, foi sempre uma figura de estilo muito aborrecida. A vida sempre te foi uma montanha russa, carregada de adrenalina. O fio da navalha foi sempre a tua ilha de conforto.

És um ser especial, fora do padrão normal que está instituído, as tuas particularidades, o teu trato fino, delicado e educado, e o teu olhar malandro, cativaram e encantaram, até mesmo, no período de maior fragilidade e dependência. 
Viveste sempre rodeado de beleza e de juventude, foste e és um homem abençoado!

Sabes Zé, tem dias que viver é a sorte da lotaria, outros dias há, que viver é sobreviver a cada dia, mas tu, mesmo nos altos e baixos, nunca baixaste a guarda, abraçaste a vida com as tuas particularidades, e foste feliz à tua maneira.
 
És o primeiro Homem que Amei, Amo e Admiro. Herdei as tuas raízes, o teu berço, o teu trato fino e delicado, e, muitas das tuas particularidades. E s
abes Zé, foi a herança mais rica e mais bonita que me podias ter deixado. O teu legado vive comigo e acompanha-me sempre para todo o lado.

Tu e a Mãe, apesar dos arrufos de namorados, fizeram um excelente trabalho. Eu, enquanto vossa filha, sou um pouco de ambos, e, tenho-me como boa gente e como uma boa semente. Prometo honrar-vos e não deixar-vos mal, enquanto memória minha houver.
 
Agora, tenho duas coisitas a pedir-te, Zé, quando te encontrares com a Tua Mãe, manda-lhe um beijo meu e diz-lhe que tenho muitas, mas muitas saudades dela. E, quando estiveres com a Minha Mãe, diz-lhe que cumpri a promessa que lhe fiz de cuidar de ti, e manda-lhe também um beijo meu.
 
Por fim Zé, hoje conseguiste realizar um feito notável. Tu que és todo anti padrões e convenções, reuniste a família toda ao mesmo tempo para te cumprimentar e para te desejar uma boa viajem.
 
Não gosto de despedidas, nem de momentos tristes, nunca gostei, assim como tu.
Deixo entre nós umas reticências de saudade e de bem-querer, e já sabes que levas contigo o meu orgulho de ser tua filha.

Fica um beijo meu, um beijo nosso, um beijo de todos.
Nós por cá, os teus filhos e as tuas netas, ficamos bem.
Faz a tua jornada em paz, e, cá estamos até ao teu regresso!
 
A tua filha, Xana.

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Maria Boneca – Capítulo I

Sentada na cadeira de baloiço, herança de sua avó paterna, simplesmente se quer só.
Embalada no tempo talhado daquela madeira maciça, a mesma dureza que lhe deu corpo à alma e lhe cristalizou o medo, esconde-se do mundo e deixa-se em espera. 
De olhos postos na janela e na porta do seu recanto, não ouve, não fala, não quer saber de nada, nem de ninguém, limitando-se ao gesto do balanço lento, em defensivas programadas. Sabe e sente que está para breve o presente do tão esperado momento. A brisa passou-lhe pela janela e materializou o Senhor que permanece do lado de fora à espera da sua mão aberta.
Sabe que após a batida da porta, lhe esperam uns vincos acentuados e uns quantos fios brancos a acrescentar ao seu olhar, e, sabe também que nunca há-de perder o sereno, mesmo que ao abrir da porta, se veja Maria Boneca morta.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

CHCF 11/08/2020

Excepcionalmente, hoje deixaram-me vê-lo.
Acedi ao jardim do Centro de Dia do Alzheimer do Centro Hospitalar Conde Ferreira para o ver do exterior, através de uma janela de guilhotina antiga, reabilitada.
Estava sentado numa cadeira de rodas, próximo da janela, de corpo curvado sobre sim mesmo e sondado (para ser alimentado), e precisou de colaboração da enfermeira Cândida para que a interação entre pai e filha fosse bem sucedida.
Estava sonolento e prostrado, mas ainda assim, com um esforço sobre-humano cantou os parabéns pelo seus setenta e nove anos e atirou-me um beijinho num sorriso palido e esmorecido.

Este dia já ninguém nos tira, Zé, nem o maldito Covid 19!
Para o ano, se vida houver, cá estaremos novamente para comemorar o teu 80 aniversário, caso contrário, o teu legado está devidamente delegado❤️, até porque enquanto memória minha houver, ninguém te vai esquecer.

Parabéns Zé 😊🎂🍾

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Dá a surpresa de ser

Mercuro B. Cotto

























Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.

É a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa
[Lisboa, 1888-1935]